Oi pessoal tudo bem aí? Estão se recuperando da onda de calor também? Aqui foi complicado. Eu e minha companheira dormimos alguns dias no escritório, que no momento tem a característica de ser o único cômodo da casa com ar condicionado.
Mas o calor não foi a única coisa atípica recentemente pra mim. Quem me acompanha sabe que nos últimos dias me desliguei das redes sociais um pouco e não faltou motivo pra isso, mas se eu conseguisse fazer um resumão dos motivos seria: Cansei. É isso, eu só cansei. Tava dando murro em ponta de faca. As pessoas com quem eu queria me comunicar não recebiam meu conteúdo e vice e versa. No final das contas eu to benzão, um pouco mais leve, com menos raiva por estar menos tempo indignado com conteúdos que são claramente feitos para, adivinha? Te indignar.
E vou te dizer ainda, que dessa reflexão toda ainda saiu isso aqui. O Ruído, por hora, vai ser a minha janela pro mundo. Meu pequeno lugar/diário/carta onde eu vou poder contar um pouco da minha experiência humana/artística/trabalhadora com um pouco mais de leveza, registros e afins.
Dito isso, um rolê maneiro que está ecoando nos meus dias é a volta das coisas analógicas. Ja é do conhecimento dos meus amigos e alguns seguidores atentos que eu tenho tido um apreço pelo vinil nos últimos anos (algo que vou compartilhar em vários ruídos inclusive), mas o que tem me impactado mais é a fotografia analógica. Fazia tempo que eu não me divertia tirando foto como estou agora. Parece contraproducente né? Comprar filme, que é caro pacas diga-se de passagem. Aí você vai lá, bota o filme, gasta umas foto atoa por que não sabe regular a velocidade do obturador direito, depois ainda tem o trabalho de levar o filme pra revelar, esperar uma semana pra receber as fotos que vão estar cheias de falhas e algumas manchas até. Eu compartilho da sua confusão, não faz muito sentido técnico, porém pra mim existe um valor artístico que compensa de certa forma todos esses empecilhos. Pra mim o fato de tirar uma foto sem saber como ela vai ser, tem uma especie de brincadeira, que me faz recobrar o Kahn curioso e artista que queria explorar técnicas e experimentar esquisitices.
Em um nível mais espiritual apreciar uma foto com todas as suas falhas, seus borrados, grãos e deformações me fazem pensar um pouco na vida e principalmente nas pessoas e ambientes em minha volta. Sinto que aceitando essas imperfeições eu começo a aceitar mais o conceito de falha, consigo lidar comigo e com o meu trabalho mais fácil me faz pensar que se a foto que eu tirei que é tão falha tem sua beleza, então o que eu crio também tem e além disso eu também tenho.
No momento eu estou me sentindo aquela caricatura do velho isolado que rejeita toda e qualquer tecnologia, ainda mais agora com todo o bafafá de inteligência artificial e todos os avanços que resultam na precarização do trabalho artístico. 
Por falar em tecnologia e artista, essa semana eu finalmente peguei pra ouvir o novo álbum do FBC, “O amor, o perdão e a tecnologia irão nos levar pra outro planeta” e as reflexões que ele me trouxe bateram muito com o momento. É um álbum que ao mesmo tempo que te acolhe desse cinismo digital algorítmico maluco vem pra te dar um chacoalhão e te tirar desse transe tecnológico quase que distópico que a gente ta. Passar pela faixa “Dilema das Redes” onde o FBC praticamente fala “odeio o mundo, odeio tudo, principalmente odeio a sua opinião” pra no final ter a faixa “Desculpa” onde ele fala “desculpa, amor, não duvida, eu fiz merda, cê tá certa, essa vida as vezes maltrata, às vezes machuca, desculpa”, me faz refletir sobre esse eu lírico cheio de agressividade e violência e ao mesmo tempo contradições e fragilidades que o FBC sempre nos presenteia nas suas músicas, mas nesse projeto parece um personagem resultante de um excesso de informação, algoritmos, relações e a falta de relações. Outra vez, é um álbum que bate muito, quase como um espelho turvo que ao mesmo tempo que reflete quem está ouvindo cria essa figura misteriosa nossa quase que irreconhecível mas ao mesmo tempo suficientemente familiar.
A conclusão que se tira disso tudo? É que arte é muito massa.
Espero que tenham gostado dessa primeira carta. Fiquem bem e até o próximo Ruído!

Até mais,
Victor Kahn
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